Número de procedimentos oncológicos da cidade está acima da média registrada na região. Professores e alunos do curso de Medicina da Unila irão a campo para identificar fatores que podem explicar o expressivo índice
Denise Paro
Fotos: Divulgação Prefeitura Missal
Um convênio selado entre a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e a prefeitura de Missal, a 75 quilômetros de Foz do Iguaçu, vai investigar os fatores que resultam na alta incidência de casos de câncer na cidade. Conforme dados do Ministério da Saúde, em 2016 foram registrados 2.451 procedimentos oncológicos em Missal. A quantia, que representa 22,56% da população, está acima da média das 9 cidades da Regional de Saúde de Foz do Iguaçu, ou seja, 10,72%.
A pesquisa denominada “Estabelecimento do Perfil de Adoecimento Oncológico da população de Missal” será realizada por professores e estudantes do curso de Medicina na Unila e terá auxílio de servidores e agentes comunitários de saúde. O convênio foi assinado na segunda-feira, dia 2, na Câmara de Vereadores de Missal.
Uma das questões a serem consideradas no estudo é o índice de cobertura do Programa Saúde da Família (PSF) em Missal, que chega a 100%. Por isso, um dos pontos de partida do estudo visa elucidar se o número expressivo de procedimentos oncológicos da cidade é resultado do diagnóstico precoce ou se há outros fatores envolvidos. “Pode ser que o município detecte precocemente a doença”, diz o vice-prefeito e ex-secretário de Saúde, Eduardo Staudt.
Staudt diz que além desta hipótese, outros fatores serão considerados na tentativa de elucidar o problema, tais como, uso de agrotóxico na lavoura, fatores genéticos, culturais e ambientais. Muitas pessoas na cidade já tiveram pelo menos um familiar com a doença.
Cidade com cerca de 10.800 habitantes colonizada por alemães, Missal tem economia rural baseada na cultura da soja, milho, suinocultura e bovinocultura leiteira.
A pesquisa terá início com a aplicação de um questionário que abrangerá 100% das famílias para traçar o perfil dos pacientes. O questionário já foi aprovado pelo comitê de ética do Ministério da Educação.
Coordenadora da pesquisa, a professora da Unila Maria Leandra Terencio diz que a meta de trabalho será fornecer elementos que subsidiem a prefeitura de Missal para elaborar políticas públicas relativas à doença. “Para isto, faremos um estudo investigativo integrado envolvendo grupos de pesquisa de várias áreas do conhecimento, utilizando ferramentas da área médica, da psicologia comportamental, da saúde coletiva, da biologia molecular e genética, da bioquímica, da química ambiental, entre outros”, explicou.
O projeto terá duração de dois anos e contará com a participação de 5 grupos de pesquisa, 12 professores dos cursos de Medicina, Saúde Coletiva, Química e Ciências Biológicas e, pelo menos, 25 estudantes de graduação e pós-graduação.
Os dados colhidos no município de Missal serão analisados pelo Laboratório de Pesquisa em Ciências Médicas (LPCM), vinculado ao curso de Medicina da UNILA.