Adolescentes da AFA formam grupo com aulas semanais e instrumentos emprestados por entidade
Instrumentos em punho, jovens olhos atentos aos movimento de mãos precisas do maestro. Uma, duas , três vezes. Assim, a turma de musicistas da Associação Fraternidade e Aliança (AFA), reune-se duas vezes por semana sob a batuta do maestro Cristiano Galli e quatro músicos para formar a Orquestra Jovem Giusi Lauro - Reciclando Sonhos.
Iniciada há pouco mais de três meses, a turma reúne crianças e adolescentes de 11 a 18 anos em aulas semanais com instrumentos cedidos pela própria associação. “Iniciamos do zero. Começamos ofertando a ideia de formar uma orquestra e esperamos os jovens se candidatarem”, conta o maestro Cristiano Galli.
Para recrutar interessados, a parceria entre o maestro e a AFA , foi até as escolas da comunidade levar a música clássica. “Não ia adiantar a gente convidar as crianças, sem que soubessem o que era um instrumento musical, por isso levamos às salas de aula esses músicos, para buscar essa proximidade”, conta Suzane Amorim, gestora de projetos da AFA.
No início foi difícil manter uma quantidade de interessados. “Antes o público era bastante rotativo, hoje ficaram somente aqueles que realmente tem interesse, e aprenderam a lidar com a disciplina exigida e o esforço”. A média é de 35 alunos.
Boa parte dos adolescentes teve contato com a música através de oficinas dentro da AFA, mas de maneira recreativa. Com a ideia de montar a orquestra o aprendizado ganhou ares de profissionalismo. “A maioria deles (alunos), não tem instrumentos próprios, pois estão em situação de vulnerabilidade. Mas isso não impede que aprendam e se dediquem”, revela o maestro.
Os instrumentos da AFA foram conquistados também com parcerias, que incluíram Furnas, Itaipu, Receita Federal(via doações a bazares da entidade) e Justiça Federal. “Tínhamos o desejo, e o ele (maestro) o projeto. Foi um grande encontro”, disse Suzane.
Para reforçar o aprendizado Galli conta com o auxílio de quatro músicos/professores contratados pela AFA, que acompanham os alunos durante as aulas, auxiliando na leitura das partituras e postura. Boa parte deles, já foi aprendiz de Galli. “Eu fiz o convite aos músicos que conheço e muitos aceitaram o desafio, e hoje estão aqui auxiliando na formação desses jovens”. Os custos dos professores são arcados pela associação. O trabalho do maestro é voluntário.
Os planos não param por aí. A ideia inclui ainda atrair mais jovens para a orquestra. “O projeto está aberto a jovens a partir de 13 anos, mas não é necessário que sejam atendidos na AFA”.
Impressões
A rotina dos jovens aprendizes vem mudando com a música. Julio Cesar Ribeiro, 13, alunos do 6o ano e morador do Bubas, encontrou no violino uma forma de expressão. “Antes, durante a oficina eu tinha dificuldade, dor nos dedos, mas agora que presto mais atenção, ficou mais fácil”. Para ele, a música não é apenas uma possibilidade. “A música me faz esquecer de uns problemas e a ficar mais calmo”, diz o menino que deseja seguir com a música numa carreira paralela a de bombeiro.
Nathaly Acostas,11, também no 6o ano, moradora do Patriarca, vem de bicicleta para os ensaio e segue os caminhos do pai que também tocava instrumento musical. “A repetição é o mais complicado, mas a música mesmo melhorou muito a minha atenção”.
AFA
A AFA atende cerca de 400 crianças em cinco oficinas, e inclui algumas parcerias, entre elas com a Unila para aprendizado de música.
Os projetos da orquestra e do coral devem ganhar rumos ousados a partir deste semestre quando apresentam-se em público. “O Coral já tem uma atividade intensa, mas orquestra ainda vai estrear”, conta a gestora. A intenção, segundo ela é que os alunos hoje já integrados ao grupo sejam profissionais da música e tenham fonte de remuneração.
Sobre Cristiano Galli
Cristiano Galli é graduando em Criação Musical pela UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana) onde desenvolveu pesquisa sobre a Estética da Saturação Instrumental. Membro do grupo de música contemporânea da UNILA e idealizador da Orquestra de Cordas da UNILA onde atuou como regente. Foi fundador do coletivo Contackte - Plataforma de Desenvolvimento de Arte Contemporânea. Como compositor teve obras executadas pela OSUEL (Orquestra Sinfônica da Universidade de Londrina); e pelo Trio Ensamble Mobile de (Curitiba). Teve obras estreadas em festivais como o Festival de Música de Londrina, ENCOM (Encontro Nacional de Composição Musical) e I Concerto de Criação Musical da UNILA. Também é graduado em História pela Uniamérica (Faculdade União das Américas) sendo, nessa ocasião, bolsista do projeto de iniciação científica, PROIC, Brasil. Em 2017, por sua produção musical, foi agraciado com a comenda da Ordem do Mérito Cultural Carlos Gomes.