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CER IV CONTRIBUI PARA A AUTONOMIA DE PESSOAS CEGAS

“Fui perdendo a visão aos poucos. Cada vez que fazia um exame, voltava para casa e fazia um bolo. Sabia que em pouco tempo nunca mais poderia fazer isso novamente. Até que um dia parei de fazer”. O depoimento é de Leni Ferreira de Amaral, usuária do Centro Especializado em Reabilitação (CER IV), no Jardim Ipê.

 

Leni ficou cega aos 27 anos, devido a complicações do diabetes. Na época, sentiu-se acuada e com medo, mas sempre contou com a família. No CER IV, encontrou um espaço para aprender sobre locomoção, independência e empatia. Hoje, aos 39, ela treina os primeiros passos para utilizar o transporte público sem a companhia de guias. Vive sozinha, voltou a fazer bolos e redescobriu um novo universo. “Eu achava que cego não podia cozinhar, não podia fazer nada sozinho, me enganei”.

 

Acompanhada pela mãe, Josefa, ela interage num grupo de atividades terapêuticas que se reúne todas as quartas-feiras no CER IV, com atendimento multiprofissional que inclui desde fisioterapia, treino em orientação e mobilidade, até rodas de conversa. “No começo ela dependia demais da gente, hoje faz tudo sozinha, é muito independente. Eu ainda tenho medo que ela saia sozinha, mas tenho muito orgulho dela”, conta dona Josefa.

 

Patrick Vieira Engelmann, 22 anos, também divide as atividades no grupo. Com visão de apenas 3% desde os 5 anos, é um dos mais jovens. “Minha mãe me ensinou a começar alguma coisa e a concluir. Quando perdi minha visão eu sabia que minha vida não ia acabar ali, e depois a gente aprende que mesmo com a limitação, a vida continua”.

 

Com ajuda da bengala, ele se locomove com desenvoltura até a faculdade onde cursa Tecnologia em Análise de Desenvolvimento de Sistemas, joga partidas de goalball e faz planos para o futuro. “Quando me formar quero fazer um aplicativo que auxilie as pessoas com deficiência".

 

Ademir Borges, 61 anos, ficou cego de um dos olhos há 4 anos, e do outro, enxerga 4%. Desde o início de suas atividades no CER IV tem melhorado a mobilidade, a autonomia e ganhou mais segurança para sua locomoção. “Aprendi a fazer a leitura do paver (piso tátil nas calçadas), mas ainda falta coragem”. Ainda assim, divide o tempo conhecendo mais sobre mobilidade, exercícios e autonomia, com histórias como de Leni e Patrick.

 

Sentidos

A instrutora em orientação e mobilidade, enfermeira Débora Santos Rocha Rodrigues lida com as histórias de cada um de maneira particular. “Além de falar sobre a importância do caminhar seguro e independente para a pessoa com deficiência visual a partir de técnicas específicas para sua real inclusão social, estimulo a utilização da bengala longa e realizo atividades para o treino dos sentidos remanescentes, ou seja, os sentidos que não foram afetados, tais como audição, tato, cinestesia e olfato. Isso não é natural, precisa ser treinado”, explicou.

 

Além da bengala como instrumento de independência para a pessoa com deficiência visual, há também a possibilidade da conquista de um cão guia via cadastro no site do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense - Campus Camboriú, local este que sedia o Curso de Formação de Treinadores e Instrutores de Cães Guia, no entanto os animais doados são em pequeno número e infelizmente não atendem toda a demanda.

 

Aos deficientes visuais (cegos e indivíduos com baixa visão) que necessitam de próteses, órteses e meios auxiliares de locomoção, o CER IV no momento faz encaminhamentos para os serviços referenciados e está em fase de licitação para dispensação destes materiais no próprio serviço.

 

Atendimento

Para atendimento no CER IV, é necessário que o a pessoa com cegueira e/ou baixa visão, procure o serviço para agendamento de uma avaliação multiprofissional, munido dos seguintes documentos: encaminhamento médico e /ou outro profissional de saúde (SUS), cartão SUS atualizado, comprovante de residência (Foz do Iguaçu) e documento com foto.

 

Após a avaliação multiprofissional, é traçado um plano de tratamento individualizado e, a partir daí, os pacientes podem contar com uma equipe de apoio que inclui instrutora de orientação e mobilidade, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, fonoaudiólogo, assistente social e especialidades médicas. Todos os serviços são gratuitos.

 

Abril Marrom

Desde 2017, o Paraná integra ações de orientação à campanha do Abril Marrom, o mês de Prevenção à Cegueira. “O CER IV apoia a campanha, e alerta que a prevenção é fundamental para evitar a cegueira”, disse a coordenadora do CER IV, Fátima Issa. “Isso porque cerca de 80% das doenças oculares que causam cegueira são tratáveis”, comentou.

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as principais causas de cegueira no Brasil são catarata, glaucoma, retinopatia diabética, cegueira infantil e degeneração macular.

 

Esta campanha tem como objetivo conscientizar a população sobre a prevenção da cegueira, diagnóstico e tratamento precoce e reabilitação das pessoas com deficiência visual. A regularidade às consultas com o médico oftalmologista é o modo de prevenção mais efetivo.