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A AMEAÇA VEM DO BRASIL

Mário Abdo Benitez, presidente do Paraguai, afirmou na última sexta-feira, 8, que o Brasil é “uma grande ameaça” à saúde dos paraguaios devido aos crescentes casos de coronavírus no país. O Brasil tem mais de 140.000 casos confirmados, enquanto no Paraguai, um dos primeiros países na América Latina a estabelecer um bloqueio nacional para conter a pandemia, um total de 563 pessoas foram infectadas.

“Com a situação do Brasil hoje, nem sequer passa pela nossa cabeça abrir a fronteira. O Brasil é, talvez, o lugar onde existe hoje a maior expansão do coronavírus do mundo e isso é uma grande ameaça para o nosso país”, afirmou Abdo Benítez.

Na semana passada, o presidente paraguaio aumentou a segurança ao longo da fronteira para impedir a entrada irregular de brasileiros ou paraguaios que não respeitam a quarentena obrigatória de 14 dias para todos os que entram no país. A fronteira de cerca de 700 quilômetros entre os dois países foi fechada desde o meio de março, com exceção apenas para o transporte de mercadorias e cidadãos repatriados. Mas a divisa continua a ser porosa.

Abdo Benítez disse que a medida foi tomada para defender “o esforço que o povo paraguaio vem fazendo” no combate à pandemia. O Paraguai tomou medidas para impedir a disseminação do coronavírus alguns dias após a detecção do primeiro caso, em 7 de março.

A decisão de paralisar as atividades não essenciais, permitindo a saída das pessoas pelas ruas só para ir a mercados, farmácias e bancos, ocorreu “antes mesmo de as medidas restritivas serem recomendadas pela Organização Mundial de Saúde [OMS]“, de acordo com o presidente. A nação seguiu a lógica da prevenção diante da incapacidade de seu sistema de saúde aguentar o tranco da epidemia que se avistava.

A quarentena parcial dos primeiros dias foi mais tarde reforçada com o isolamento total , o que permitiu ao país sul-americano demonstrar um bom gerenciamento da situação, com 563 infectados até o momento, dos quais apenas dez morreram e 152 se recuperaram.“Estamos bem e esperamos continuar assim”, disse Abdo Benítez.

O presidente paraguaio e seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, costumavam aproximar-se ideologicamente. Contudo, agora mostram divergências na gestão da crise do coronavírus, e o Paraguai passa a ver o Brasil como um perigo.

Segundo a Americas Society/Council of the Americas, fórum de pesquisa sobre América Latina, o Brasil é o país latino com o nível mais acelerado de propagação do vírus. O número de mortes dobra a cada cinco dias, de acordo com a Fiocruz. Mesmo assim, as medidas de contenção da pandemia no país ainda são mais leves, tendo instituído bloqueios totais, os lockdowns, em alguns estados apenas nesta semana.

De acordo com um levantamento feito pelo jornal The New York Times, o Paraguai tem sete casos de coronavírus a cada 100.000 habitantes nesta sexta-feira, 8. Enquanto isso, o Brasil tem 67.

Por conta do aparente sucesso no controle do coronavírus, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou uma contração da economia paraguaia de 1% para este 2020, com uma recuperação de 4% no ano seguinte. Os dados colocam o país entre aqueles com o menor impacto econômico gerado pela crise de saúde.

Segundo o presidente paraguaio, 40% da atividade econômica manteve-se em funcionamento durante a quarentena. Na primeira fase da suspensão das restrições, iniciada na segunda-feira 4, esse percentual subiu para 58%. Cerca de 700.000 trabalhadores nos setores industrial, da construção civil e de alguns segmentos de serviços voltaram à atividade nesta semana, na chamada “quarentena inteligente”, que permite a reabertura econômica gradual.

O governo paraguaio se apega a esse número para defender o intervencionismo estatal na economia, com ações voltadas a impedir ou minimizar os efeitos da flutuação na atividade econômica. Para Abdo Benítez, a expectativa é que o Paraguai seja o país da região com menor golpe da pandemia no Produto Interno Bruto (PIB).

O presidente pediu que os cidadãos continuem cumprindo as recomendações de segurança para poder avançar no cronograma de relaxamento do bloqueio nacional, permitindo a reabertura dos setores que ainda permanecem inativos.