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Votos nulos e brancos têm maior índice em Foz desde 2008

Denise Paro

Foto Christian Rizzi

Total de nulos supera votação do terceiro colocado nas eleições, Tenente Coronel Jahnke

O número de votos brancos e nulos nas eleições suplementares realizadas no dia 2 de abril deste ano em Foz do Iguaçu é o maior já registrado desde 2008. O levantamento, realizado pelo Front Press com base em dados da Justiça Eleitoral, mostra que a quantia de votos brancos aumentou de 1,36% para 5,04% entre 2008 e 2017 enquanto os nulos subiram de 2,98% para 6,94% no mesmo período.

Se somados, os votos nulos, brancos e abstenções, ou seja, os ‘não votos’, chegam a 42.936 e superam a votação do segundo colocado no pleito, o empresário Phelipe Mansur (Rede), que computou 30,85% dos votos válidos, equivalente a 38.039. Já o total de votos nulos, 9.683, foi maior que os votos do terceiro candidato, Tenente Coronel Jahnke, que fez 8.801 votos.

Com apoio de 10 partidos, o candidato Chico Brasileiro (PSD) saiu vitorioso nas eleições com 56,35% dos votos válidos, ou seja, 69.469. Osli Machado (PPS), que ficou em quarto lugar, fez 3.770 votos, seguido por Marcelino (PT) com 2.106 e Irineu Ribeiro (PV) um total de 1.105.

Uma série de leituras pode ser feita a partir deste resultado. A mais comum é relativa ao descrédito do eleitor na classe política e a corrupção instalada na prefeitura de Foz do Iguaçu na gestão passada.

Porém, para o professor Doutor em Ciências Políticas da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Lucas Ribeiro Mesquita, há diversos aspectos a serem considerados. Mesquita coloca que, em uma perspectiva mais ampla, em termos de país, até 2012 havia um incremento da participação eleitoral, com o aumento do número de eleitores, partidos, candidatos e filiados aos partidos políticos.

No entanto, duas condições impactaram o quadro. Uma de ordem técnica, que especificamente em Foz interfere diretamente no número de eleitores, é a utilização do cadastro biométrico nas eleições de 2016. A outra, relacionada à característica sócio-política, é decorrente dos movimentos nacionais de 2013 que politizaram a sociedade como um todo, segundo o professor. “Essa politização, à primeira vista, poderia ter um impacto positivo nas urnas, com a redução dos "não votos", uma vez que uma sociedade mais politizada levaria o cidadão a querer participar da vida política. O que se observa, entretanto, foi uma ‘politização apolítica’ “, analisa.

Com a ‘politização apolítica’ o professor refere-se ao esforço do discurso de ‘criminalização da política’, amplamente divulgado por candidatos, lideranças e movimentos sociais. O discurso conecta a política a algo que é ruim e sem possibilidades de mudança.

Mesquita pontua que era de se esperar aumento da abstenção, dos votos nulos e brancos devido às características da eleição – fora do calendário oficial e com descrédito político acentuado, tanto local quanto nacional, e praticamente com os mesmos candidatos da eleição anterior, além do vencedor, Paulo Mac Donald (PDT), não ter assumido.

Os votos de Mac Donald, analisa o professor, tiveram três destinos. Foram transferidos para Chico Brasileiro e Phelipe Mansur – cada um conseguiu captar cerca de 15 mil votos; alguns se abstiveram de votar, o que pode ser visto pelo aumento de 10 mil abstenções em relação ao último pleito, e outra faixa anulou e votou em branco. “Portanto, o aumento dos votos brancos e nulos podem ser entendidos como voto de protesto, como naturalmente são, mas também já eram esperados devido a esses fatos”, salienta.

Apesar do acréscimo nos ‘não votos’, o professor chama à atenção, em contrapartida, para a efetiva participação política da população de Foz nas eleições. O total de abstenções, 26.224, ou seja, 15,82%, é considerado baixo se comparado às eleições nacionais cuja taxa chega a aproximadamente 25% a 30%. No entanto, deve-se considerar que Foz do Iguaçu já passou pelo recadastramento eleitoral, o que implicou na retirada da lista o nome de eleitores que mudaram de cidade ou já haviam morrido.

Alianças contraditórias – Outro aspecto da eleição são as alianças partidárias, muitas contraditórias. O candidato vencedor, Chico Brasileiro, fez uma coligação com outros 10 partidos – PRTB, DEM, PTB, PP, PEN, SD, PRP, PRB, PMN e PCdoB. Na mesma base estão por exemplo, o PCdoB, do vice Bobato, que se intitula comunista, e o DEM, da ala direita. A Rede, de Phelipe Mansur, se coligou com PDT, PMDB, PR, PSDC e PSDB.

O professor Mesquita explica que para compreender a formação das coligações em Foz é preciso relativizar a ideologia dos partidos políticos e observar quais os grupos políticos e sociais que estão por trás das legendas. “Tanto o candidato Chico quanto o candidato Phelipe realizaram coligações que não seriam replicadas em eleições nacionais por exemplo, onde há uma maior projeção (não necessariamente coesa) da ideologia partidária como definidora. E isso é normal na política de cidades médias e pequenas. A eleição é muito mais voltada para o candidato do que no partido”, diz.

Diante das incoerências das coligações e do quadro eleitoral armado para as eleições suplementares, o PCB de Foz do Iguaçu, que não lançou candidato e nem se coligou com partidos, chegou a publicar uma nota oficial, no dia 28 de março, defendendo o voto nulo nas eleições suplementares. Em um dos pontos, o partido destacou que um dos vencedores das eleições locais seria o governador Beto Richa que tinha a base política "estacionada nas duas candidaturas com chances de vitória", ou seja, os candidatos Chico Brasileiro e Phelipe Mansur.

"Phelipe Mansur (Rede) tem o apoio direto do governador e soma os tucanos oficialmente em sua aliança eleitoral, além de coligar-se com o PMDB. Chico Brasileiro (PSD) tem o apoio da vice-governadora, Cida Borghetti (PROS), e de seu marido, o ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), além de Ratinho Junior (PSD), secretário de Richa", declarou o partido na nota.

"Coerência é algo inexistente nos balcões desses partidos. Não por acaso devem ser registrados novamente altos índices de abstenção e votos nulos e brancos como na última eleição" , pontuou a nota.

Curva ascendente: votos brancos e nulos aumentam em Foz do Iguaçu

2017
Brancos: 7.029 5,04%
Nulos: 9.683 6,94%
Abstenção: 26.224 15,82%
Total eleitores: 165.730
2016
Brancos: 4.582 3,04%
Nulos: 7.821 5,18%
Abstenção: 14.891 8,99%
Total eleitores: 165.730
2012
Brancos: 2.931 1,95%
Nulos: 6.853 4,56%
Abstenção: 35.679 19,18%
Total eleitores: 186.041
2008
Brancos: 2.002 1,36%
Nulos: 4.386 2,98%
Abstenção: 33.448 18,54%
Total eleitores: 180.429