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Você conhece a Síndrome do Imperador?

Livro aborda postura de crianças mandonas e autoritárias. Comportamento, se não tratado, pode levar a pessoa a se tornar uma personalidade antissocial na fase adulta

Por Denise Paro

Crianças mandonas, autoritárias, verdadeiros imperadores ou imperatrizes mirins. O comportamento é comum e preocupa pais e professores que às vezes não sabem lidar com a situação. A psicóloga e escritora Lilian Zolet mergulhou nesse universo e escreveu um livro sobre o tema “Síndrome do Imperador – entendendo a mente das crianças mandonas e autoritárias”. A obra, da Editora Epígrafe, acaba de ser lançada e amplia o debate sobre a educação e o comportamento infantil na sociedade atual. Nesta entrevista ao Front Press, Lilian, que é especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e tem experiência clínica no atendimento de casos deste tipo, comenta detalhes sobre a Síndrome do Imperador.

Quais são as características das crianças portadoras da Síndrome do Imperador?

As “crianças imperadoras” lideram a casa, xingam os pais, babás e professores, escolhem a comida que vai ser feita, definem o que deve ser assistido na TV, a hora de ir dormir e acordar, as atividades do dia, se querem ou não fazer a tarefa da escola e estudar para a prova. Para conseguir os seus desejos e caprichos, elas gritam, ameaçam e agridem fisicamente e emocionalmente os pais. Por sua vez, os progenitores não sabendo como reagir a essa situação, muitas vezes, acabam cedendo aos comportamentos de mando e birra do filho (a), dando presentes e atenção excessiva. Tais atitudes reforçam e acentuam o mau comportamento. Com isso, a criança aprende que é através do grito, do desrespeito e da raiva que ela vai conseguir ganhar o que deseja.

Cabe lembrar que toda criança em algum momento de sua trajetória vai desobedecer alguma orientação. Isso faz parte da curiosidade do infante e do ciclo de aprendizagem. Diferentemente, a Síndrome do Imperador ocorre quando a criança desrespeita frequentemente qualquer tipo de autoridade, incluindo pais e educadores. Além disso, os maus comportamentos vão se acentuando a cada dia e ocasionam danos físicos e emocionais tanto para a criança quanto para as pessoas que convivem com ela.

 

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Quais fatores contribuem para desencadear a síndrome? Há algum tipo de temperamento que predispõe a patologia?

Não há um fator apenas que leva a criança a desenvolver a Síndrome do Imperador. Mas, sim, um somatório de aspectos ambientais, mesológicos e genéticos. Ou seja, há crianças que por falta de orientação quanto aos limites agem assim, mas há outras que possuem essa atitude devido a aspectos genéticos (redução cognitiva, baixos índices de serotonina, entre outros). Entretanto, um dos principais fatores que observo atualmente na clínica é a falta de limite, a ausência de interação em família e a dificuldade em expressar o afeto. As mudanças socioculturais das últimas décadas têm corroborado para o surgimento de alguns comportamentos disfuncionais nas crianças. Muitos psicólogos e pedagogos comentam que a escassez de tempo dos pais para com os filhos é uma das principais causas da síndrome do imperador.

Quanto ao temperamento, cabe lembrar que as crianças são como “esponjas”, aprendem com os pais o tempo todo, mesmo quando os progenitores não se dão conta de que estão ensinando. Os pais podem tentar ensinar certos valores, mas a criança inevitavelmente absorverá aquilo que é transmitido através do exemplo de seus pais expressos no dia a dia. Se os pais brigam, discutem em casa, gritam constantemente, xingam, não possuem diálogo, afeto, organização e disciplina, a criança vai espelhar-se neles.

Como tratar a Síndrome? O quadro é reversível?

A notícia boa é que o quadro é reversível, entretanto, depende do engajamento dos pais e da criança na terapia. Educar é adequar os instintos e vontades para uma boa convivência. Se satisfizermos todos os desejos e vontades da criança, ela pode elaborar um esquema mental de merecimento ou grandiosidade. Com isso, o pensamento disfuncional “eu sou especial, os outros devem me servir” pode prevalecer na manifestação da criança.

A dica para reverter essa condição é:

 

  1. Reserve um espaço em sua agenda para brincar todo dia com seu filho, 15 minutos é suficiente.

  2. Esclareça seu filho sobre as regras da casa. Escrevam juntos os combinados e fixe em local de fácil visualização.

  3. Jamais forneça afeto quando a criança está com raiva ou birrenta. Oriente seu filho a se acalmar. Aguarde pacientemente. Após, converse com seu filho. Use frases curtas e diretas.

  4. Seja um modelo positivo para seu filho.

  5. Atente-se para as ações de seu filho e elogie prontamente seus esforços, suas habilidades e virtudes.

  6. Converse sobre o que ele faz.

  7. Deixe seu filho ser responsável por alguma tarefa em casa (lavar a louça, arrumar a cama, guardar os brinquedos etc).

  8. Quando você estiver irritado, acalme-se primeiro para depois falar com a criança e o cônjuge.

  9. Incentive seu filho a desenvolver novas habilidades. Jamais utilize termos pejorativos: “você é lento”, “você é burro” ou comparativo “seu irmão é melhor”, “sua irmã é mais calma”.

  10. Apoie seu filho e ajude-o a superar seus problemas!

Outra dica importante é solicitar a orientação de psicólogo e médico para que ambos possam auxiliar no diagnóstico e na terapêutica da criança. Cabe a reflexão da frase do famoso filósofo romano Sêneca (4 a.C.): “a educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida”.

Os estudos sobre a Síndrome são recentes?

Não. A Síndrome do Imperador é equivalente ao Transtorno Desafiante Oposicional (TDO), houve apenas uma popularização do termo, devido à associação com as posturas autoritárias dos imperadores, deixando mais didático o conceito para os leigos. Quando os comportamentos disfuncionais não são reajustados na infância, ocorre uma consolidação do repertório comportamental e moral na adolescência, podendo se transformar em transtorno de conduta e na adultidade, em personalidade antissocial. Tais transtornos são importantes de serem tratados não apenas porque causam problemas na infância, mas também porque estão relacionados a comportamentos disruptivos e criminosos mais tarde na vida.